Em 02 e 03/01/1944 Nero Moura e seus Homens Chave partiram em dois grupos do Rio de Janeiro para a Base Aérea de Natal, onde a 04/01 embarcaram em dois aviões da USAAF com destino a Orlando, na Flórida, lá chegando em 05/01/1944 para um período de treinamento ministrado em duas fases 

  1. Treinamento teórico, de 07 a 30/01/1944, no Army Air Force Tactical Center (AAFTC) em Orlando, Florida.
  2. Treinamento prático, de 30/01/ a 02/03/1944 no Alachua Army Air Field, em Gainsville, Florida.

Os Homens-Chave

O termo 'Homens-Chave' refere-se aos oficiais e subalternos que, após o treinamento, desempenhariam funções chave no Grupo, exercendo papel de liderança no comando, nas esquadrilhas e nas seções. Foram escolhidos a dedo por Nero Moura pois responderiam diretamente a ele e seriam seus homens de confiança. No total, a FAB enviou à Flórida um total de 36 homens, sendo 16 oficiais e 20 subalternos. Ressalta-se que, na listagem abaixo, os oficiais e sargentos aparecem com a função que lhes foi originalmente designada quando do treinamento em Orlando e que pode ter sido alterada depois. Por exemplo, o Cap. Marcilio Gibson Jacques foi originalmente designado como um dos comandantes de esquadrilha mas, após o treinamento no Panamá, foi realocado para a liderança do Escalão Terrestre. 

FunçãoNome
Comandante de Grupo Maj. Nero Moura
Comandantes de Esquadrilhas Cap. Marcílio Gibson Jacques
Cap. Joel Miranda
1º Ten. Newton Lagares da Silva
Oficial de Operações Cap. Oswaldo Pamplona Pinto
Oficial de Armamento 2º Ten. Newton Neiva de Figueiredo
Oficial Comunicações 1º Ten. Theobaldo Antonio Kopp
Oficial de Informações Cap. Lafayette Cantarino Rodrigues de Souza
Oficial de Ligação Cap. Fortunato Câmara de Oliveira
2º Ten. José Carlos de Miranda Corrêa
Oficial Médico Cap. Clóvis Cardoso de Moraes
Oficial Mecânico Asp. Jayme Flores Pereira
Oficial Rádio 2º Ten. Lucídio Chaves
Oficial de Material Bélico Asp. Jorge da Silva Prado
Oficial de Suprimentos Técnicos Asp. Atílio Bochetti
Intendência Cap. Ovídio Alves Beraldo
Adjunto 1º Sgt. Cid Costa
Sargento.de Suprimentos Técnicos 1º Sgt. Jean Louis Bourdon
Encarregado de Hangar So. Antonio Coelho Serra Aranha
Encarregado de Transportes 3º Sgt. Dioracy Dornelles Rocha
Encarregado de Armamentos So. João Pereira Leite
Mecânicos Chefes de Esquadrilha 2º Sgt. Militino Vieira de Paiva
1º Sgt. Paulo de Castro Gondin
Sargento. de Fileira 2º Sgt. Monclar Goes Campos
Inspetor de Aviões So. Oscar Hertel
Encarregado de Radar (IFF) So. Baldir Calado
Encarregado de Comunicações 1º Sgt; Oriel Ferreira Martuscelli
1º Sgt. Livio Rolim de Moura
Auxiliar de Comunicações 2º Sgt. José Vieira da Costa Valente
Inspetor de Armamento 1º Sgt; João Ribeiro Casas Costa
1º Sgt. Francisco de Assis Barreto
Sargento de Suprimentos 2º Sgt. Hortir Speridião do Rego Barros
2º Sgt. Mário Furtado Villa
Escrevente de Operações 2º Sgt. Ernani Machado de Gusmão
Encarregado de Material Químico 1º Sgt. Arthur Estrella de Souza
Escrevente de Informações  2º Sgt. Jota Brasileiro

O Army Air Forces Tactical Center - AAFTC

O AAFTC foi criado em 1942 como Army Air Force School of Applied Tactics (AAFSAT) - Escola de Tática Aérea Aplicada da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos - e redesignado AAFTC em 1943. Seu primeiro Oficial Comandante foi o Brigadier-General Hume Peabody.  e era composta por quatro centros de instrução: Air Defense, Bombardment, Air Support e Air Services, que originalmente seriam em localidades separadas mas que foram concentrados na Orlando Army Air Base por questão de economia de recursos e de facilidade de coordenação entre os diversos cursos. Sua função era a de concentrar todo o conhecimento adquirido em termos de táticas de combate e ali desenvolver as melhores e mais modernas e atualizadas táticas de combate ao inimigo, unificadas sob uma coordenação única. Para os membros do 1º GAvCA, a finalidade era não só a familiarização com os processos, táticas e métodos modernos de guerra, bem como o material mais moderno que estava sendo utilizado nos combates, mas também - dadas as diferenças de organização entre as FAB e a USAAF - que nossos oficiais compreendessem toda a estrutura organizacional da USAAF pois era sob o comando desta que eles iriam operar. A AAFTC trouxe, ainda, o que era uma grande novidade na época para os brasileiros e inclusive para boa parte dos americanos: os simuladores de voo.

Treinamento

Durante o primeiro mês, no AAFTC, o treinamento se viu limitado a aulas teóricas, que incluíam aulas sobre a organização da USAAF e estudos aprofundados de tática, não só da caça diurna propriamente dita, mas também da caça noturna e de bombardeio.

Finda essa etapa, a 30/01/1944 oficiais e sargentos foram encaminhados para o "Alachua Army Air Field", localizado a cinco quilômetros da cidade de Gainsville, ainda na Flórida, onde a instrução passou a ser de responsabilidade do 445th Fighter Squadron, equipado com caças Curtiss P-40N-5-CU Warhawk e onde foram colocados em prática os ensinamentos teóricos aprendidos em Orlando relativos à caça.

"Neste campo a instrução não foi tão boa quanto era de desejar em virtude de tudo ser improvisado e não existir mesmo uma unidade de caça americana organizada, sendo tudo baseado em dados hipotéticos como se fosse um grupo em operações. Ali só existiam os homens-chave que trabalham num grupo e um total de 10 aviões. De maneira que, apesar de tentar se dar o aspecto mais real possível, a instrução ocorreu com algumas deficiências.". 
Nero Moura, em relatório.

À exceção do Cap. Av. Newton Lagares, que já havia voado o P-40 na Base Aérea de Natal, nenhum Oficial Aviador do 1º GAvCa possuía experiência nesse tipo de aeronave, o que tornou necessário um curso de adaptação. A grande experiência de voo (1000 horas ou mais) possuída por todos, entretanto, fez com esse curso fosse concluído rapidamente e sem maiores problemas. 

Programa de Treinamento Aéreo em P-40N-5
Adaptação (5 pousos) 02 horas
Transição 03 horas
Transição acima de 20.000 pés (oxigênio) 01 hora
Formação - Fechada 02 horas
Formação - Ataque 03 horas
Interceptação e Interceptação Controlada (Radar) 10 horas
Problemas, escoltas, ataques, interceptação e ataques rasantes 06 horas
Tiro sobre alvo terrestre (3.200 tiros cada) 10 horas
Tiro sobre biruta (800 tiros cada) 02 horas
Acrobacias e miscelâneas 05 horas
Total 50 horas

No curso com o P-40N o treinamento estendeu-se por aproximadamente 45 dias, em ritmo intenso, com aulas bastante detalhadas e ministradas por aviadores e especialistas norte-americanos recém chegados dos teatros de operações, veteranos de guerra que traziam a seus alunos a experiência de quem havia vivido o combate real. Os brasileiros tomaram conhecimento do radar, das aeronaves utilizadas pelo Eixo, de seus próprios aviões e de como operava um grupo de caça da USAAF em um teatro de guerra. A dificuldade com a língua causou alguns inconvenientes, principalmente nas instruções de interceptação controlada, mas não impediu que os oficiais  brasileiros adquirissem os conhecimentos necessários aos quais o curso se propunha.

Os sargentos especialistas aprofundaram seu conhecimento sobre os diferentes equipamentos a serem futuramente empregados em operações de guerra. Receberam instrução de 1º e 2º escalões de manutenção e revisão. Provaram estar acima da média e aptos a orientar seus colegas de seção nas funções que estes viriam a desempenhar.

Um único acidente foi registrado em 29/02/1944 durante o treinamento quando, devido a uma falha mecânica, o P-40N s/n 42-105653 pilotado pelo Cap. Oswaldo Pamplona recolheu uma das pernas do trem de pouso após o avião ter pousado normalmente.

Ao mesmo tempo em que ocorria o treinamento dos Homens-Chave na Florida, iniciou-se no Brasil o processo de seleção de voluntários para o 1º GAvCa, com a escolha de 40 oficiais aviadores. Os que não possuíam experiência de vôo no P-40 passaram, nas Bases Aéreas de Natal e Recife, por um curso de adaptação de aproximadamente 20 horas, ministrado durante os meses de janeiro e fevereiro de 1944. Concluído o curso, voltaram para suas unidades de origem, aguardando nova convocação.

Em 02/03/1944 o curso foi dado como concluído e em 10/03/1944 instrutores do AAFSAT e do 1166th SS qualificaram os pilotos brasileiros como aptos, com aproveitamento igual ou superior ao de seus pares americanos. Em 13/03/1944 o grupo seguiu de Gainsville para Miami, de onde foram enviados diretamente para Albrook Field, no Panamá.