Enquanto corria o treinamento dos homens-chave na Flórida, os demais homens que integrariam o 1º GAvCa foram enviados, em grupos, para Albrook Army Air Field, no Panamá, por via aérea, em aviões de transporte C-46, C-47 e C-54 da USAAF. Em número de vinte, os grupos começaram a ser enviados em fevereiro de 1944 em intervalos regulares que duraram até maio. O primeiro grupo a chegar ao Panamá, às 13h00 de 10/02/1944, foi liderado pelo Aspirante da Reserva Danilo Marques Moura e compunha-se, além do próprio Danilo, de um suboficial e treze sargentos. O último grupo chegou a 10 de maio, liderado pelo Capitão Francisco Dutra Sabroza.

Concluída a instrução na Flórida, em 18 de março o pessoal chave chegou ao Panamá e, pela primeira vez, a maior parte do efetivo final do 1º GAvCa encontrou-se reunido em um só local. A partir de 1º de abril os membros do Grupo deixaram Albrook Field em comboios de caminhões, deslocando-se para as diversas bases nas quais cada especialidade teria seu treinamento específico.

  • Chame Field - 28th Fighter Squadron
  • Madden Field - 24th Fighter Squadron
  • Howard Field - 43rd Fighter Squadron
  • France Field - 32nd Fighter Squadron

Os pilotos foram enviados para a Base Aérea de Aguadulce, próxima à Vila de Aguadulce, cujo nome derivava de um pequeno riacho que corria perto, situada a aproximadamente 190 km da capital. Ali chegaram os últimos contingentes, vindos do Brasil. Aguadulce era um local inóspito, seco e onde a água era escassa. A pouca água potável que havia tinha um aspecto esbranquiçado devido à alta concentração de cloro que nela era colocado. Os alojamentos, espaçosos e relativamente confortáveis, eram construídos em madeira e ficavam suspensas a aproximadamente 1,5 metros do solo, com janelas devidamente protegidas por telas contra insetos, já que o medo de contrair doenças transmissíveis por insetos, como a Malária, era grande. O calor também era forte.

O 30th Fighter Squadron

A unidade da USAAF designada para treinar o 1º GAvCa era o 30th Fighter Squadron, subordinado ao XXVI Fighter Command da Sixth Air Force da USAAF. O 30th FS originalmente era uma das sete unidades de aviação de caça destinadas à defesa da Zona do Canal do Panamá, mas, àquela altura, havia sido reclassificado como uma Unidade de Treinamento Operacional (OTU - Operational Training Unit). Ainda que baseado em Aguadulce, o 30th FS tinha destacamentos em outros locais como Rio Hato, La Chorrera, Albrook, Anton e Howard Field. Operou em Aguadulce de 10/02/1943 a 25/01/1945. Entretanto, mesmo reclassificado como uma unidade de treinamento manteve sua participação nos voos de patrulha e defesa aérea da Zona do Canal. Seu comandante era o Capitão William S. Chairsell e seu subcomandante o Capitão Delmore "The Gopher" John.

"O Chefe de Instrução de Vôo foi o Coronel da USAAF Gabriel P. Disosway, que exerceu papel de destaque nesta fase do treinamento do Grupo. Texano duro! Nada lhe passava despercebido. Exigente ao máximo, transformou um grupo de pilotos brasileiros, sem a mínima doutrina de unidade aérea, em um dos melhores esquadrões de combate que passaram pela escola de caça da Zona do Canal."
Brig. Rui Moreira Lima, no livro "Senta a Púa".

O Coronel Gabriel Poillon "Gabe" Disosway não fazia parte do efetivo do 30th FS, mas por sua vasta experiência no AAFTC (Army Air Force Training Command) havia sido designado pela Sixth Air Force para criar no Panamá um centro de treinamento tático de aviação de caça que fosse o mais próximo possível das condições reais de combate. Disosway mostrou não apenas grande competência técnica como instrutor, mas também competência pessoal na maneira como lidava com os homens do Grupo, ganhando o respeito e a amizade de todos. Além de Disosway havia cerca de seis outros instrutores da USAAF, todos com mais de mil horas de voo e alguns com experiência em combate.

Preconceito

A 24 de março ocorreu um episódio que marcaria a passagem do Grupo pelo Panamá com revolta e consternação. Uma ordem do comando da base estabelecia que os soldados brasileiros não poderiam ir ao PX (Post Exchange), cinema, piscina ou qualquer outra facilidade da base sem que estivessem acompanhados por um sargento americano. Sem entender o motivo de tal punição, tais ordens geraram um imenso mal-estar no Grupo até que no dia seguinte, 25 de março, após o almoço, veio a explicação: Nero Moura havia recebido uma reclamação formal dos americanos sobre a presença de negros no efetivo do 1º Grupo de Caça. A segregação que havia dentro das Forças Armadas dos Estados Unidos fez-se sentir, com americanos recusando-se a frequentar os mesmos locais que os negros brasileiros. A reação dos brasileiros foi primeiro a de espanto, seguida de uma explosão de protestos, mas Nero Moura pouco ou nada podia fazer a respeito. Nero reuniu o Grupo, manifestou sua extrema discordância com o pensamento americano, mas disse que, dos negros, aqueles que desejassem retornar ao Brasil poderiam fazê-lo livremente, sem que lhes fossem tirados quaisquer méritos. Os que desejassem ficar deveriam estar cientes e preparados para enfrentar possíveis pesadas demonstrações de racismo por parte dos americanos. 

Treinamento

O treinamento do 1º GAvCa como uma Unidade Tática começou em dia 19 de abril, incorporando todas as lições aprendidas por unidades aliadas nos Teatros de Operações de guerra. Vale lembrar que mais do que a avaliação individual de cada piloto para sua aprovação (ou não) como piloto de caça e o treinamento do pessoal de terra, o treinamento no Panamá teve a finalidade de fazer com que o Grupo de Caça começasse a operar como uma unidade coesa e independente. Foi no Panamá que grande parte dos membros do 1º GAvCA, oriundos de diversas unidades da FAB, travaram contato pela primeira vez, se conheceram mutuamente, trocaram experiências e ali começou a ser criado o Espírito de Corpo do Grupo. Os pilotos chegados do Brasil foram submetidos a um programa de cerca de 110 horas de treinamento de voo em caças RP-40B/C/E e P-40E/N, já sob o comando dos líderes de esquadrilha brasileiros, incluindo tiro terrestre, bombardeio picado e os voos em formação com uma a quatro esquadrilhas com quatro aeronaves cada. No treinamento de navegação foram usados os Cessna UC-78 e no de voo noturno e por instrumentos os North American AT-6D / BC-1 (designação sob a qual os cerca de 180 primeiros AT-6 foram entregues ao United States Army Air Corps - USAAC antes de terem a designação mudada de BC ("Basic Combat") para AT ("Advanced Training"). Da mesma forma, o pessoal de terra era treinado nos procedimentos administrativos e operacionais nos padrões da Força Aérea Americana, desde funções na logística de pessoal (pagamento, alimentação, uniformes etc.) quanto na de material (manutenção de aeronave, suprimentos, comunicações etc.). As simulações das missões incluíam não apenas a parte do voo, mas também todo o procedimento de checagem e municiamento da aeronave feito pelo pessoal de terra.

Também foi no Panamá que ocorreu a distribuição dos pilotos nas quatro esquadrilhas, lideradas pelos Capitães Lafayette Cantarino Rodrigues de Souza (Vermelha), Joel Miranda (Amarela), Fortunato Câmara de Oliveira (Azul) e Newton Lagares da Silva (Verde).

O 1º GAvCa recebeu, em 11 de maio de 1944, a atribuição de participar do esquema de defesa do Canal do Panamá, juntando-se aos outros esquadrões americanos. Por sua importância estratégica, temia-se um ataque lançado por forças japonesas a essa área. Nenhum voo que passasse por sobre a Zona do Canal do Panamá o fazia sem que fosse interceptado e escoltado por caças aliados. A ordem era a de abater qualquer avião que não se identificasse. Esse fato passou a ser um marco na história do 1º GAvCa, pois foi aí que este passou a operar como uma unidade independente, acumulando mais de 100 saídas de interceptação e mantendo suas esquadrilhas diariamente em alerta no solo. Já não eram apenas missões de treinamento, mas missões reais de guerra e caso o temido ataque japonês tivesse se consumado o 1º GAvCa certamente teria sido envolvido no combate. Das quatro esquadrilhas brasileiras, uma estava diariamente de prontidão, podendo decolar para interceptar o inimigo imediatamente após ser dado o alarme. Os aviões ficavam num estacionamento próximo à cabeceira da pista, enquanto seus pilotos ficavam numa barraca a pouca distância dos aviões e os mecânicos no lado oposto. Uma vez acionada a sirene do alarme mecânicos e pilotos corriam para os aviões, com parte dos mecânicos preparando a partida do P-40 e parte auxiliando o piloto com seu equipamento. Os alarmes podiam ser tanto devido ao inimigo real, das Forças Japonesas, como o inimigo fictício, aviões aliados em ataque simulado. O piloto, entretanto, decolava sem saber o que iria encontrar lá em cima.

Outro fato de destaque ocorrido no mesmo dia foi a Cerimônia de Incorporação da Bandeira Nacional, recebida um mês antes pelo Cap. Av. Francisco Dutra Sabrosa e pelo 1 º Ten. Av. Horácio Monteiro Machado das mãos de D. Berthe Grandmasson Salgado, esposa do Ministro da Aeronáutica, no Campo dos Afonsos, bandeira essa que acompanharia o Grupo durante toda a Campanha da Itália e está preservada hoje no Museu Aeroespacial. A cerimônia contou com a presença dos Oficiais Comandantes da 6th Air Force e também do Ten. Cel. (depois Brigadeiro) Raymundo Vasconcelos de Aboim, Adido Aeronáutico do Brasil no Panamá e figura de suma importância no apoio ao GAvCa durante toda sua estadia no Panamá. Discursou Nero Moura:

"Como confirmação dos propósitos brasileiros que nos impulsionam, temos hoje a suprema alegria de receber em nossa unidade a Bandeira do Brasil. Assim, no coração da América Central, a formosa bandeira da nossa pátria, confundindo suas dobras com a da sua irmã norte-americana, proclamava ao mundo a união do continente e o comum propósito de tudo sacrificarem para que a paz volte a reinar na superfície da terra."

Conforme os brasileiros foram se capacitando nas diversas funções tiveram transferidas para si as responsabilidades do pessoal americano, que por sua vez era realocado para outras unidades da USAAF no Panamá, até que a 17 de maio os americanos entregaram aos brasileiros o controle da base, suas instalações e materiais e 25 aeronaves P-40 (nem todas em condições de voo). Dentro de poucos dias, entretanto, todos os P-40 estavam na pista prontos para o voo e o GAvCa começou a operar de forma independente. Pode-se dizer que, dado o enorme número de brasileiros dentro do 30th Fighter Squadron este foi uma das poucas unidades da USAAF que, em algum momento, foram operadas majoritariamente por estrangeiros.

Perdas

Gastaldoni

Em 18/05/1944 o Grupo sofreria sua primeira baixa. Durante voo de instrução, após executar um 'tonneau' a 12.000 pés, o P-40C s/n 41-13482 do 2º Ten. Av. Dante Isidoro Gastaldoni entrou inexplicavelmente em voo picado quando ocupava a posição de número dois numa esquadrilha de quatro aviões. Gastaldoni ainda conseguiu deixar a aeronave, mas, sem altitude suficiente para abrir o paraquedas, morreu no choque contra o solo. Seu corpo foi encontrado entre as cidades de São Tiago e São Francisco.

Através da ação junto aos americanos do Adido Aeronáutico no Panamá, Ten. Cel. Av. Raymundo Vasconcelos de Aboim, Nero Moura mandou construir um jazigo no Cemitério Americano de Corozal, Quadra K, Fileira 8, Jazigo 12, onde o corpo de Gastaldoni foi sepultado e repousou até ser trasladado ao Brasil em 1961.

Pilotos Não Aprovados no Curso de Caça no Panamá

Outras perdas para o Grupo incluíram aqueles não aprovados no curso de piloto de caça. 

  • Armando de Souza Coelho
  • Aurélio Vieira Sampaio
  • Paulo Costa
  • Carlos de Castro Swenson
  • João Edson Rebello e Silva
  • Wilson Vieira Chaves

Chaves, Swenson e João Edson voltaram ao Brasil, sendo posteriormente enviados aos EUA para novo treinamento e posterior envio à Itália como pilotos de reposição, o que acabou não ocorrendo devido ao final da guerra. Swenson ainda chegou a à Itália no começo de maio, mas os combates já haviam se encerrado.

Armando, Aurélio e Paulo Costa voluntariaram-se para o curso de Controlador de Radar oferecido pelos americanos e ocorrido no próprio Panamá, posteriormente seguindo de avião para os EUA de onde partiram para a Itália em 20/08/1944 em um C-54 da USAAF, mesmo voo no qual seguiram também,  com a missão de preparar a chegada do grupo.o Major Rube Canabarro Luca e o Ten. Cel. Nelson Wanderley. Reencontraram seus colegas de Grupo quando da chegada destes a Tarquína. Na Itália teriam uma segunda chance e seriam aproveitados como pilotos de P-47, dada a falta de pilotos de recompletamento pela qual o Grupo passaria.

Acidentes Ocorridos no Panamá

DataAeronaveSerialTipo AcidentePilotoObs
10/05/1944 RP-40C 41-13516 Pouso forçado. Falha de motor. César Pereira Grillo Perda total
12/05/1944 RP-40C 41-13482 Acidente no pouso Roberto Brandini Recuperado
13/05/1944 RP-40C 41-13408 Cavalo de pau João Edson Rebello e Silva Perda total
18/05/1944 P-40E 41-13482 Queda por causa desconhecida Dante Isidoro Gastaldoni Perda total. Piloto faleceu.
25/05/1944 RP-40C 40-560 Cavalo de pau Wilson de Castro Barbosa Danificado.
26/05/1944 RP-40C 41-13488 Cavalo de pau Leon R. Lara de Araújo Recuperado.
30/05/1944 RP-40C 41-13418 Na decolagem Wilson de Castro Barbosa Perda total
03/06/1944 P-40E 40-570 No pouso de emergência Hélio Carlos Cox Recuperado
08/06/1944 P-40L 42-10530 Pouso de barriga John R. Cordeiro e Silva Recuperado
08/06/1944 P-40E 40-541 Cavalo de pau Ismael da Motta Paes Recuperado
12/06/1944 AT-6 40-2134 No pouso Carlos de Castro Swenson Recuperado
12/06/1944 P-40N 42-10519 (?) Pouso de barriga Othon Correa Netto Recuperado
13/06/1944 RP-40C 41-13417 Cavalo de pau Rui Moreira Lima Perda total.

Encerramento

O encerramento das atividades do Grupo em Aguadulce ocorreu, formalmente, em 20 de junho de 1944, numa cerimônia militar simples, mas contando com a presença do Ministro da Aeronáutica Salgado Filho e dos comandantes da 6th Air Force e do 26th Fighter Command e onde cada piloto brasileiro aprovado no curso recebeu a "Silver Wing" da USAAF. Os Tenentes José Carlos de Miranda Correa e Alberto Martins Torres foram condecorados com a DFC (Distinguished Flying Cross) pelo afundamento do submarino alemão "U-199".

Foram condecorados pelo Governo Brasileiro com a Ordem do Cruzeiro do Sul:

  • General George H. Brett (Grande Oficial)
  • Coronel Gabriel Poillon Disosway (Comendador)
  • Coronel Willis R. Taylor (Comendador)
  • Major John W. Connelly (Oficial)
  • Capitão Wiliiam S. Chairsell (Cavaleiro)
  • Capitão John William Buyers (Cavaleiro)

Às 06h00 do dia 22 de junho um comboio de 25 caminhões com o pessoal do 1º GAvCa partiu de Aguadulce para Albrook Field, lá chegando às 12 horas. Precisamente às 12:10 de 27 de junho de 1944, o 1º GAvCa deixava o Panamá, no navio transporte norte-americano USS General T. H. Bliss (AP-131), com destino a Nova York.