No período compreendido entre 21 e 24 de abril de 1945, em apoio à Ofensiva da Primavera, as forças aliadas empreenderam um ataque maciço contra as forças do eixo. Os objetivos eram manter todos os bloqueios do Rio Pó, negando aos alemães qualquer possibilidade de retirada organizada, e facilitar o estabelecimento de cabeças-de-ponte dos V e VIII Exércitos ao norte do rio, o que eliminaria a reorganização dos elementos alemães que eventualmente o tivessem cruzado. Nesse período houve um esforço máximo de toda a Força Aérea Aliada, realizando-se um número impressionante de surtidas.

O 1º GAvCa, ainda que já afetado pela diminuição do número de pilotos disponíveis e pela falta de recompletamento, participou desse esforço, atingindo o auge desse esforço no dia 22 de abril. Apenas 22 pilotos estavam em condições de voar e 23 aviões P-47 estavam disponíveis. Ainda assim, foram realizadas 11 missões com 44 saídas. Isso significa que os pilotos do 1º GAvCa realizaram mais de uma missão naquele dia, num esforço sobre-humano para cumprir as missões atribuídas ao grupo.

Uma sólida cobertura de nuvens, o teto baixo e a falta de visibilidade impediram que as atividades aéreas se iniciassem logo ao clarear do dia. Na área dos Montes Apeninos a base de nuvens estava a 6.000 pés, ou seja, acima da maioria dos picos. Na área dos objetivos, ao sul do Rio Pó, não havia nuvens mas a visibilidade era limitada. Ao norte do rio, próximo aos Alpes, as nuvens recomeçavam, com base a 9.000 pés.

Às 08:15 h as condições atmosféricas na área do aeródromo de Pisa melhoraram, a ponto de ser ordenado o início das operações aéreas. As esquadrilhas foram lançadas conforme segue abaixo:

Missão/HoraHistórico
Missão 372
08:30 h
Decolagem da primeira esquadrilha de 4 aviões (Horácio, Lara, Lima Mendes, Canário), transportando 8 bombas de demolição de 500 libras, em busca de objetivos na margem sul e nos pontos de travessia do Rio Pó; com grande habilidade e sob intenso fogo antiaéreo, atacou uma ponte de pontões construída pela engenharia alemã, ao norte de San Benedetto, danificando-a; um dos aviões regressou fortemente avariado pela AAA.
Missão 373
08:35 h
Decolagem da segunda esquadrilha de 4 aviões (Pessoa Ramos, Rocha, Perdigão, Paulo Costa), transportando bombas e foguetes. Atacou uma ponte ferroviária e outra rodoviária; encontrando um grupo de casas com veículos camuflados em volta delas, incendiou quatro casas e destruiu os veículos; outro deles foi atacado em campo aberto.
Missão 374
08:40 h
Decolagem da terceira esquadrilha (Dornelles, Poucinha, Eustórgio, Pereyron) que completou o ataque da ponte de pontões ao norte de San Benedetto, já atacada pela primeira esquadrilha e fez silenciar 3 das posições de AAA que defendiam a ponte; destruiu na mesma área uma casa ocupada pelo inimigo; em Suzara atacou uma estação de estrada de ferro ocupada por tropas e 3 casas com veículos militares.
Missão 375
09:45 h
Decolagem da quarta esquadrilha de 4 aviões (Nero, Buyers, Neiva, Goulart), armados apenas com as metralhadoras; depois de cuidadosa pesquisa, descobriram uma concentração de 80 a 100 veículos a motor, nas proximidades de San Benedetto, que foram repetidamente atacados com destruição de grande número deles dado o incêndio generalizado provocado entre os veículos. As chamas e a fumaça alcançavam os 1.500 pés de altura quando os aviões abandonaram a área.
Missão 376
10:55 h
Decolagem da quinta esquadrilha (Rui, Meira, Tormim, Coelho), que voltou a atacar a concentração de veículos acima referida e também, repetidamente, um sistema de trincheiras ocupadas, a oeste de Nogara, na margem norte da autoestrada local.
Missão 377
11:40 h
Decolagem da sexta esquadrilha (Horácio, Lima Mendes, Lara e Canário), que partiu em reconhecimento armado. Destruiu 15 caminhões numa garagem improvisada, nas proximidades de San Benedetto, destruiu duas casas ocupadas e cercadas de veículos e atacou 30 veículos à tração animal com destruição da maioria deles.
Missão 378
12:40 h
Decolagem da sétima esquadrilha (Dornelles, Eustórgio, Torres, Poucinha), que encontrou piores condições meteorológicas. Na área dos objetivos, destruiu 4 casas ocupadas pelo inimigo, a leste de San Benedetto; destruiu ainda 2 veículos a motor e 1 carro comando, avariando 2 balsas, 1 veículo a motor e 2 carros comando.
Missão 379
13:45 h
Decolagem da oitava esquadrilha (Pessoa Ramos, Rocha, Perdigão, Paulo Costa), que voltou a atacar a garagem e a concentração de veículos, visados pela quarta esquadrilha, nas proximidades de San Benedetto. Avariou, ainda, 4 balsas, destruiu um transporte a motor e avariou outro.
Missão 380
14:45 h
Decolagem da nona esquadrilha (Nero, Goulart, Neiva, Pereyron), que destruiu 13 veículos a motor e avariou outros três; fotografou a garagem, nas proximidades de San Benedetto, atacada pelas esquadrilhas anteriores, encontrando-a completamente destruía.
Missão 381
15:15 h
Decolagem da décima esquadrilha (Meira, Tormim, Keller, Coelho), que destruiu um tanque leve, um carro comando e incendiou a casa onde se achavam os veículos; dada a pouca altura das nuvens na área, os aviões dessa esquadrilha já entravam nas nuvens, na recuperação dos ataques.
Missão 382
15:45 h
Decolagem da décima primeira esquadrilha (Horácio, Buyers, Lima Mendes, Lara), que encontrou más condições atmosféricas na área dos objetivos; 21 veículos transportando munição foram destruídos, bem como outros 5 a motor e mais outros cinco avariados; uma rara fotografia foi obtida, de veículos inimigos tentando atravessar o Rio Secchia, o que permitiu o seu ataque posterior por uma esquadrilha de outra unidade. Foi abatido o P-47D-25-RE 42-26773 "D6" pilotado pelo 2º Ten. Av. Marcos Eduardo Coelho de Magalhães, que saltou de paraquedas e foi feito prisioneiro pelos alemães.

Ao final do dia, o grupo havia destruído ou imobilizado 97 transportes a motor, 35 veículos à tração animal, um parque de viaturas e 14 edifícios ocupados pelo inimigo, avariando outros 17 veículos a motor, uma ponte de barca e uma ponte rodoviária, atacando ainda outras 4 posições militares. Foi abatido, entretanto, o 2º Ten. Av. Marcos Eduardo Coelho de Magalhães, que saltou sobre território inimigo e foi feito prisioneiro pelos alemães.

Pela atuação nesse dia, o 1º GAvCa foi recomendado para receber a "Presidential Unit Citation", condecoração concedida pelo governo norte-americano às unidades que se destacaram por "extraordinário heroísmo de seus homens". A proposta foi enviada em 17 de maio de 1945 pelo comandante do 350th FG, Coronel Ariel W. Nielsen, mas por motivos desconhecidos, a condecoração demorou 41 anos para ser entregue, sendo recebida oficialmente em 22 de abril de 1986, na Base Aérea de Santa Cruz em solenidade presidida pelo Presidente da República, o Exmo. Sr. José Sarney.

Em memória aos feitos 1945, o dia 22 de abril é hoje celebrado pela Força Aérea Brasileira como o Dia da Aviação de Caça.