A primeira menção ao envio de tropas brasileiras ao Teatro de Operações consta dos arquivos de Oswaldo Aranha, em seu relatório sobre a conferência de 12 de junho de 1940 no Itamarati, com a participação de representantes do Brasil e dos Estados Unidos. Na pauta de discussões estava a intenção norte-americana de instalar tropas no nordeste brasileiro e a necessidade brasileira de reequipamento de suas Forças Armadas. Oswaldo Aranha foi enfático na questão do rearmamento brasileiro, a partir do qual estaria aberta franca cooperação com os norte-americanos, inclusive participação militar em operações fora dos limites territoriais brasileiros.

Em novembro, a Comissão Permanente de Coordenação do Esforço de Guerra considerou a possibilidade de participação brasileira no conflito. No plano interno, a pressão a esse respeito foi aumentada por três acontecimentos:

  • O pronunciamento de Oswaldo Aranha, reivindicando papel mais destacado para o Brasil na guerra em curso.
  • Editorial do Correio da manhã, comentando que era chegada a hora de substituir concentrações populares por ações mais efetivas.
  • Opinião expressa pelo jornalista José Eduardo de Macedo Soares, em sua coluna no Diário Carioca, segundo a qual as Forças Armadas estariam prontas para lutar.

No último dia de 1942, o próprio Presidente Vargas declarou:

"... a partir dos lutosos dias de agosto último, a nossa colaboração com as nações aliadas tem sido contínua e eficiente. Não nos limitamos ao fornecimento de materiais estratégicos. A utilização do nosso litoral, base das operações de transporte de armas e homens para os teatros de luta, possibilitou as magníficas jornadas da África do Norte, primeiro passo para a grande vitória. (...) O dever de zelar pela vida dos brasileiros obriga-nos a medir as responsabilidades de uma possível ação fora do Continente. De qualquer modo, não deveremos cingir-nos à simples expedição de continentes simbólicos."

Diante da necessidade de armar o Brasil e da prioridade que os americanos davam às nações cujas tropas participavam de operações de guerra, o Presidente tinha autorizado seus representantes militares em Washington a comunicar, oficialmente, que o Brasil estava preparado para enviar soldados ao exterior. Esses representantes faziam parte da Comissão Mista de Defesa Brasil Estados Unidos, criada para concatenar as ações decorrentes do acordo de 23 de maio de 1942, 'em que se traçavam as normas e condições destinadas a regular o concurso das forças militares e econômicas dos dois países na defesa do continente'.

Em fevereiro de 1943, o Presidente Americano, Franklin Delano Roosevelt, encontrou-se com Vargas em Natal, onde foram ratificados os acordos entre os dois governos. A partir de então, Roosevelt passou a admitir o emprego de tropas brasileiras em outros teatros de operação, prevalecendo uma política de longo prazo onde o fato de outra república americana empenhar-se diretamente na guerra fortaleceria a posição dos EUA como líder das Américas no pós-guerra. Além do envolvimento das Forças brasileiras no combate aos submarinos do Eixo no litoral brasileiro, o Ministro Salgado Filho defendeu a idéia de despachar um contingente da recém-criada Força Aérea Brasileira. Durante a primeira metade de 1943, ano que caracterizar-se-ia pelos preparativos necessários ao engajamento de tropas brasileiras em operações fora do continente, autoridades foram enviadas aos EUA, onde ocorreram diversas reuniões para decidir em qual teatro de operações as forças brasileiras de ar e terra atuariam, sendo que a intenção brasileira de participar do esforço de guerra com um Corpo de Exército a três ou quatro divisões foi apresentada formalmente ao General Marshall em abril de 1943. Marshall endossou a proposta, encaminhando-a à Junta de Chefes de Estado-Maior que, já na primeira semana de maio, a aprovou, em princípio.

Em dezembro de 1943 uma comitiva composta por oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB), Exército Brasileiro, United States Army e United States Army Air Force (USAAF)partiram rumo à Argélia, onde os oficiais brasileiros fariam um reconhecimento da área e tomariam contato direto com a realidade da guerra. Isso incluiu a observação das operações de guerra, dos procedimentos nela empregados, e da organização das unidades aéreas que atuavam no teatro de operações da África do Norte, tudo com a função de auxiliar no preparo da unidade de caça que a FAB enviaria para o combate.

Paralelamente às discussões sobre o envio ou não de tropas brasileiras a teatros de operação fora do continente, a Força Aérea Brasileira envolvia-se nas operações de patrulha do Atlântico Sul. O envolvimento da FAB, na época em pleno processo de amadurecimento e expansão, nestas operações, exigiu esforço superior às suas possibilidades. Os recursos materiais ainda eram inadequados e a maioria de seus recursos humanos estava nas escolas de formação de oficiais e especialistas, em pleno esforço para atingir níveis operacionais compatíveis com suas responsabilidades.

Quando ficou resolvido que seriam enviadas tropas terrestres para operar fora do Brasil, o Ministro da Aeronáutica, Joaquim Pedro Salgado Filho, compreendeu que envio de efetivos da FAB faria com que este processo de amadurecimento muito lucrasse com a experiência do combate real. Os sacrifícios de um esforço adicional para enviar esse contingente seria largamente compensado pela experiência de combate adquirida e que seria futuramente transferida para as Unidades Aéreas de Combate.

Coube à Comissão Mista de Defesa Brasil - Estados Unidos, partindo do dimensionamento do efetivo brasileiro a ser enviado ao exterior, a missão de desencadear as ações para a organização, treinamento, apoio logístico, transporte e incorporação deste efetivo às forças aliadas no teatro de operações designado. A Comissão enfrentou, assim, o desafio de continuar o programa de rearmamento dos contingentes envolvidos na defesa do Atlântico Sul e, ao mesmo tempo, tomar medidas que viabilizassem o envio de tropas brasileiras, tanto do Exército como da FAB, aos exterior.

Ao longo de sucessivas reuniões, foram sendo definidas as linhas-mestras da participação, brasileira, em princípio segundo os seguintes parâmetros iniciais:

  • Mobilização de uma Força Expedicionária constituída de um Corpo de Exército a três Divisões e elementos do Corpo;
  • Mobilização de elementos da Força Aérea Brasileira para constituição de Unidades Aéreas, em número e nível a serem futuramente determinados;
  • Constituição das Grandes Unidades, Unidades e Subunidades do Exército e Unidades Aéreas da FAB, segundo os padrões de organização militar do Exército Americano e de sua Força Aérea;
  • Subordinação dos contingentes terrestre e aéreo brasileiros ao comando de organizações militares americanas, do Exército e da Força Aérea, desdobradas no teatro de operações a ser designado;
  • Utilização das instalações e dos serviços das organizações americanas de apoio no teatro de operações designado;
  • Utilização de material e equipamento americanos, tanto pelo Exército como pela FAB, a serem entregues na região do primeiro destino, por conta do programa "lend-lease".

Com apoio de seu representante na Comissão, o Alto Comando da FAB definiu o nível e o tipo de sua representação no futuro teatro de operações. Mesmo com o programa de expansão de recursos humanos e da ativa e da reserva em pleno andamento, mas ainda sem massa crítica suficiente para atender a todas as demandas, o Alto Comando da Aeronáutica decidiu organizar e treinar, inicialmente, um Grupo de Caça e ativar uma Esquadrilha de Ligação e Observação, que seria orgânica da Artilharia Divisionária da FEB, fornecendo os pilotos e deixando a cargo do Exército a indicação dos observadores aéreos.

"A decisão de enviar tal contingente aéreo, que aos olhos de hoje pode parecer extremamente modesta, representou na época um esforço gigantesco, uma verdadeira sangria de recursos humanos, se considerarmos os limitados efetivos da FAB de então. É justo ressaltar, portanto, a oportunidade, o acerto inegável da decisão e a correta visão de futuro dos que tinham prerrogativas de decidir e decidiram, pois os benefícios para a operacionalidade da Força ainda estão presentes em nossos dias."
História Geral da Aeronáutica Brasileira, vol. 3, p.512

Decidida a participação brasileira na guerra, no Teatro de Operações do Mediterrâneo, impunham-se as premissas de reconhecimento da área e do contato com a realidade da guerra. Para tanto, uma comitiva composta de oficiais do Exército e da FAB decolou de Natal às 23 horas do dia 7 de dezembro de 1943 a bordo de um B-24 Liberator. Cumprindo um programa especial de visitas a Comandos específicos do Exército e da Força Aérea, a comitiva regressou ao Brasil nos últimos dias de dezembro, deixando na África do Norte, em missão permanente, oficiais de ligação brasileiros junto aos principais Comandos Aliados.

Da Força Aérea, permaneceram no Teatro de Operações do Mediterrâneo os Majores Aviadores Nelson Freire Lavenère-Wanderley e Rube Canabarro Lucas com a explícita missão de "observar in loco as operações de guerra, relatar às autoridades aeronáuticas no Brasil as condições reinantes no Teatro de Operações, os processos de combate adotados, a organização das Forças Aéreas empenhadas e a dos respectivos Serviços; cabia-lhes ainda propor providências, tendo em vista uma melhor preparação do Grupo de Caça Brasileiro, e manter contato com as autoridades que iriam ter relações de comando ou administrativas com o Grupo de Caça, procurando prever as providências necessárias para diminuir as dificuldades decorrentes do fato de ter uma pequena unidade de aviação brasileira que viver e operar no âmbito da Força Aérea Aliada no Mediterrâneo, composta, na sua totalidade, de norte-americanos e ingleses".

Finalmente, de acordo com os planejamentos elaborados para sistematizar a participação da FAB na guerra, foram criadas, inicialmente, duas unidades aéreas: O 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa), através do Decreto-Lei nº 6.123 de 18 de dezembro de 1943, assinado pelo Presidente Getúlio Vargas, e a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO), através do Aviso Ministerial 57, de 20 de julho de 1944 e assinado pelo Ministro Salgado Filho.

Para uma organização ainda jovem como a FAB, necessitando conquistar o respeito da sociedade brasileira, a prematura participação em combates reais não admitia fracassos, sob pena de um desgaste que abalaria seriamente sua própria existência como unidade autônoma.

Por esse motivo, a escolha dos comandantes mereceu cuidados especiais, sem dúvida por serem eles fator relevantes de êxito, ou não, no desempenho operacional e administrativo das organizações militares que comandam.

Quando questionado pelo Ministro Salgado Filho sobre sua indicação para o comando do 1º GAvCa, o então Maj. Av. Nero Moura respondeu ser candidato ao lugar, no que foi seguido pelo Maj. Av. José Vicente Faria Lima, que também apresentou-se como candidato ao comando do Grupo. Nero Moura, então, fez a seguinte colocação:

"Ministro, o Major Faria Lima é engenheiro. O governo investiu muito dinheiro para ele estudar na França e ser desenhista de aviões. Eu sou piloto, nada mais. Se (eu) for abatido, perdemos um piloto. Ele é tão piloto quanto eu, mas, se for abatido, vamos perder um piloto e um engenheiro. Não faz sentido entregar-lhe o comando de uma unidade de combate. A função é minha, porque tais unidades são comandadas por pilotos de combate, e não por engenheiros, embora eles sejam ótimos pilotos. A eles se reserva um trabalho mais elevado, mais intelectual."
Nero Moura

Nove dias após a criação do 1º GAvCa, foi nomeado comandante deste o então Maj. Av. Nero Moura, através de decreto datado de 27 de dezembro de 1943. O Maj. Faria Lima passou a representar o Grupo no Brasil, dando contribuição inestimável ao trabalho do Maj. Nero Moura.

O critério geral de convocação dos integrantes do 1º GAvCa, em todos os níveis hierárquicos, foi o voluntariado. Isso incluía tanto o quadro de aviadores como o do pessoal de terra. Durante o processo de seleção, outros critérios foram agregados à medida que a nova unidade de combate tomava corpo.

Nero Moura fez a escolha inicial dos chamados "homens-chave", isto é, o escalão de comando (entre eles, e principalmente, o Subcomandante e Oficial de Operações e os Comandantes de Esquadrilha) que eram o embrião da nova unidade de combate, e que seguiriam com ele para a Escola de Tática Aérea Aplicada da Aviação do Exército, em Orlando, na Flórida. Esse seleto grupo era formado por 35 homens, dos quais 20 eram oficiais e 15 eram sargentos.

Nero Moura delegou aos respectivos comandantes de esquadrilha a liberdade de escolha dos futuros integrantes destas, já que estes mantinham contato mais direto com os 1ºs e 2ºs Tenentes Aviadores, conhecendo suas habilidades e deficiências. O mesmo se aplicava ao escalão de terra, onde os chefes de seção foram os responsáveis pela escolha de seus subordinados.

Como a unidade era pequena, não houve necessidade da formação de um Estado-Maior. Os líderes de esquadrilha eram os auxiliares diretos do comandos e respondiam diretamente ao Maj. Nero Moura, operando em conjunto com os oficiais de operações e de informação. Baseado nas informações transmitidas por eles, Nero Moura tomava suas decisões.

O esforço da FAB para crescer, tanto na área de pessoal como na de aviadores, redundou em aumentar o fluxo de graduação dos oficiais da ativa e incrementar a formação dos da reserva. A realidade da mobilização e a escassez de recursos derrubou as fronteiras formais entre ativa e a reserva, com oficiais de ambas voluntariando para servir nas novas Unidades Aéreas de Combate. No 1º GAvCa a proporção de oficiais da ativa era mais acentuada, situação inversa à da 1ª ELO. Porém, em ambas unidades tanto os oficiais da ativa como os da reserva cumpriram os mesmos tipos de missão e enfrentaram os mesmos desafios com a mesma coragem e dignidade.

DECRETO-LEI N. 6.123 – DE 18 DE DEZEMBRO DE 1943

Cria o 1º Grupo de Aviação de Caça

O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição, decreta:

Art. 1º Fica criado o 1º Grupo de Aviação de Caça, a três esquadrilhas e com sede provisória na Capital Federal.

Art. 2º A organização e o efetivo dêsse grupo serão determinados pelo Ministro da Aeronáutica.

Art. 3º O preenchimento do efetivo que for previsto deverá ser feito pela transferência de pessoal de outras unidades ou estabelecimentos da Fôrça Aérea Brasileira, ou pela convocação dos elementos que se fizerem necessários.

Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 1943, 122º da Independência e 55º da República.