A Seção de Informações tinha por função principal, dentre outras, a de preparar os pilotos para as missões com as informações necessárias para a execução das mesmas e, posteriormente, extrair deles o máximo de informações possível sobre a missão executada, transmitindo estas informações para os escalões superiores. Uma vez recebida a missão da Seção de Operações o Oficial de Inteligência definia a melhor rota e direção do ataque através do estudo de mapas e fotos do objetivo bem como dos mapas que indicavam as posições da antiaérea inimiga e também dos partisanos. Quando do retorno dos pilotos o Oficial de Operações fazia o interrogatório procurando saber com a maior precisão possível como transcorreu a missão e quais os resultados observados. 

Quando da formação do 1º Grupo de Caça, assumiu a chefia da Seção de Informações o Cap.Av. Lafayette Cantarino Rodrigues de Souza. Entretanto, durante o treinamento em Orlando, dada a dificuldade que o Cap. Lafayette tinha com a língua inglesa, foi nomeado como seu assistente o Ten.Av. José Carlos de Miranda Corrêa, originalmente o Oficial de Ligação e que tinha pleno domínio da língua. O treinamento desses dois oficiais, no que tange a Seção de Informações, acabou sendo prejudicado em Orlando por dois motivos: por não haver um Oficial de Informações americano e por terem eles, ainda, que cumprirem o treinamento de voo. Consequentemente, a Seção de Informações acabou sendo efetivamente organizada apenas no Panamá, onde começou a funcionar oficialmente em 18/03/1944, tendo a seção nessa época os seguintes componentes.

  • Capitão Lafayette Cantarino Rodrigues de Souza - Oficial de Informações
  • 1º Ten. José Carlos de Miranda Corrêa - Assistente do Oficial de Informações
  • 2º Sgt. Monclar Goes Campos - Auxiliar

Em princípio, ainda que não estritamente, a Seção procurou seguir a seguinte hierarquia:

  • Oficial de Informações: Encarregado da preparação das missões, escolha de objetivos, recepção das ordens de missão, interrogação e correção posterior dos Formulários 34.
  • Assistente do Oficial de Informações: Encarregado de tratar dos requerimentos, formulários, comunicados, mapas, fotografias etc.
  • Sargento Escrevente: Encarregado de preencher os Formulários 34 assim como fiscalizar o trabalho dos outros subalternos da Seção.
  • Cabo Escrevente: Encarregado de ter os mapas em dia com as situações nos diversos fronts, organizar o fichário das fotografias e mapas e voo ajudado pelo sargento ou pelo soldado.
  • Soldado: Serviços gerais de limpeza e ajudar os dois anteriores.

Na segunda quinzena de abril, já designado como comandante da Primeira Esquadrilha, o Cap. Lafayette Cantarino Rodrigues de Souza passou o comando da Seção ao Ten. José Carlos de Miranda Corrêa, enquanto o Ten. Roland Rittmeister assumiu a função de Auxiliar do Oficial de Informações.

"Nos Estados Unidos o Oficial de Informações é usualmente um Oficial de terra, ou seja, não é piloto, não executando, portanto, missões de voo. Esta norma empresta ao referido oficial mais tempo para tratar de assuntos diretamente ligados à sua Seção. É, entretanto, ponto de vista meu que um oficial de informações que faça de vez em quando uma missão terá muito mais moral entre os pilotos e também mais autoridade para falar-lhes sobre o território inimigo, assim como sobre a artilharia antiaérea inimiga, pois teve ocasião de completar seus conhecimentos sobre o assunto adquiridos em livros com a prática fornecida pela missão"
Ten. José Carlos de Miranda Corrêa, em relatório

Ainda que não tivesse obrigação de fazê-lo, após muita insistência junto a Nero Moura o Ten. Miranda Corrêa logrou cumprir oito missões de combate entre 13/11/1944 e 03/01/1945. Originalmente também habilitado para exercer a função de piloto de combate além de sua função em terra, Miranda havia sido afastado do voo em Suffolk, nos EUA, por recomendação médica devido a problemas de saúde. As missões voadas por ele, conforme previsto pelo Serviço de Saúde, cobraram seu preço e Miranda, segundo relatório de Nero Moura, acabou internado em Livorno por cerca de trinta dias.

Em 23/04/1944 foi incorporado ao quadro o S2 Augusto Lopes Villas Boas na função de escrevente (por ser jornalista) e serviços gerais da Seção. Em 13/05/1944 apresentou-se à Seção o S1 Sebastião Miniro Ribeiro da Silva para servir como desenhista.

Em Suffolk a Seção continuou no mesmo status, sendo agregada à Seção de Informações dessa base. Foi organizado para os pilotos um programa visando completar a instrução recebida no Panamá, supervisionado por instrutores americanos. Coube à Seção de Informações a parte relativa à censura e o planejamento de duas missões simuladas de escolta de bombardeiros.

Em 08/10/1944, dia seguinte da chegada a Tarquínia, começou a instalação da Seção de Informações e efetuados os primeiros contatos com a Seção de Informações do 350th Fighter Group. A Seção foi instalada em uma barraca que, com a grande quantidade de mapas que era preciso erigir, ficava bastante pequena quando a missão era de duas esquadrilhas. Os trabalhos em missões de guerra começaram efetivamente em 31/10/1944, com a preparação de cinco missões de combate a serem executadas pelo Oficial de Operações e pelos Comandantes de Esquadrilha, as primeiras missões reais de combate do Grupo. No retorno destes foram executados os interrogatórios e preenchidos os primeiros Formulários 34 respectivos.

Em 07/11/44 o Sgt. Monclar, o S1 Sebastião Miniro e o S2 Villas-Boas foram transferidos para outras seções, sendo substituídos pelo 2º Sgt. José Adolpho Teixeira e o S1 Hélio da Fonseca como escrevente, este último dada a necessidade de um datilógrafo com conhecimento de inglês. A prática demonstrou que a Seção necessitava que não só um dos Oficiais falasse bem o inglês, mas também que pelo menos um dos datilógrafos estivesse apto a escrever em inglês, dado que a maioria dos documentos a serem preenchidos eram nessa língua.

Com a morte do Ten. Roland Rittmeister em acidente ocorrido em 16/11/1944 tomou o seu lugar como auxiliar o Ten. Paulo Costa, até então alocado no Controle de Interceptação. Nesse mesmo dia foram classificados na Seção os S2 Raphael Nester, Heródoto Campos e Jorge Zeola. Nesta mesma data foi transferido para outra seção o 2º Sgt. José Adolpho Teixeira.

Uma vez em Pisa a Seção de Informações encontrou melhores condições de limpeza e segurança numa sala num edifício central do campo, que entretanto ainda era pequena para acomodar o "Briefing Room" e mais as mesas de trabalho do Oficial de Inteligência e dos escreventes, estas últimas tendo sido alocadas na Sala de Operações. A pouca iluminação e o frio da sala foram resolvidos com a instalação de um número maior de lâmpadas e um aquecedor. 

A  27/12/1944 o Cap. Fortunato Câmara de Oliveira foi designado para um estágio de cinco dias na Seção. A 22/02/1945 deixou a Seção o S2 Jorge Zeola e neste mesmo mês colaboraram nos trabalhos da Seção, como Auxiliares do Assistente, os Tenentes Newton Neiva de Figueiredo e Alberto Martins Torres, período em que houve maior atividade na frente do Vale do Pó. A 02/03/45 foi transferido da Casa de Ordens o 3º Sgt. Cyro Lassere Rivera e em 19/03/1945 chegou do Brasil o Ten. Oscar Spinola Jr, que substituiu o Ten. Paulo Costa na função de Assistente do Oficial de Informações até o final da guerra.

A Seção funcionou até o último dia de guerra, 08/05/1945, quando devido ao fim das hostilidades foram suspensas definitivamente as atividades operacionais do 350th FG e, consequentemente, as do 1º GAvCa.

 Responsabilidades e Trabalhos Realizados

1) Informações de Combate (Combate Intelligence)

Parte operativa, que pode ser dividida em quatro partes:

  1. Difusão entre os pilotos de todas as informações que lhes vão permitir executar as missões com êxito (briefing).
  2. Preparação da missão e para a missão.
  3. Interrogatório (debriefing),
  4. Transmissão aos escalões superiores das informações trazidas pelos pilotos.

“Para se obter esse conjunto de informações volumosas e detalhadas, para se poder operar, é claro que deveria existir uma fonte de informações. O Primeiro Grupo de Caça era subordinado ao 350th Fighter Group norteamericano, de tal maneira que essa subordinação fazia com que eles tivessem a obrigação de gerar todas as informações para nós. ( ... ) Além disso era muito bem estudado o contorno da linha de frente para que, quando houvesse uma missão de atacar posições na linha de frente, os pilotos estivessem  completamente conhecedores da sua posição. Também é interessante notar que se fazia um estudo da geografia do teatro. Esse estudo permitia que os pilotos se deslocando no teatro conhecessem rapidamente a sua destinação: se estava em cima de uma cidade e precisava ir para outra ele já sabia o rumo, pois tinha estudado a geografia da área que estava sobrevoando. Em muito facilitou essa identificação desses pontos, dessas áreas, desses locais, dessas referências, a experiência adquirida nos vôos do Correio Aéreo Nacional. Isso permitiu aos nossos pilotos um grande desembaraço na observação do terreno para seguirem os seus voos."Coronel Oscar de Souza Spínola, em depoimento ao documentário "Senta a Púa"

2) Fuga ou Atividades Atrás das Linhas Inimigas dos Pilotos Abatidos

Uma das funções mais importantes da Seção de Informações era a preparação dos pilotos para, em caso de necessidade, empreender a fuga e voltar em segurança para as linhas amigas, deixando-os seguros de absolutamente tudo que deve ser feito como o uso da bolsa de fuga e caixa de mantimentos, quais estradas e caminhos oferecem maior chance de sucesso de voltar, como aproximar-se da população minimizando riscos, etc.

Logo após o briefing da missão era mostrado aos pilotos o "Safe Area Map", mapa onde eram indicadas as áreas de concentrações (em maior ou menor quantidade) dos partizanos italianos e que podiam esconder ou auxiliar a fuga do piloto abatido. Mostrava, ainda, as direções a serem seguidas de modo a manter-se sempre o mais próximo possível dessas concentrações de partizanos. 

Os pilotos eram também instruídos sobre o que podia ser dito ao inimigo assim como a atitude a ser adotada caso caíssem em país neutro, obedecendo à Convenção de Genebra, bem como sobre o funcionamento do serviço de busca e salvamento no mar (SAR - Search And Rescue) que, a partir de Pisa, era executado pelos Supermarine Walrus do No. 293 Squadron da RAF. 

Para uma fuga ser bem sucedida é necessário levar em conta uma grande quantidade de pequenos detalhes e são esses detalhes que o Oficial de Informações deve instruir nos pilotos, seja por meio de leituras constantes, seja por meio de conversas tidas com os mesmos durante os briefings, seja ainda contando-lhes como outros conseguiram fugir com sucesso.Ten. José Carlos de Miranda Corrêa, em relatório

O Relatório de Fuga era feito quando o piloto regressava ao Grupo, com a finalidade de tirar o máximo de informações observadas  sobre o inimigo como posições de artilharia, concentrações de tropas, disposição pelo terreno, etc. Durante a guerra foram feitos dois relatórios de fuga, do Ten. Danilo e do Cap. Kopp. Após o fim das hostilidades, com sua libertação dos campos de prisioneiros, foram feitos os relatórios do Tenentes Assis, Coelho, Corrêa Netto e Brandini, bem como do Cap. Joel Miranda que havia se escondido em casa de partisanos. 

3) Censura

Estabelecimento e publicação das normas a serem obedecidas pelos censores nas correspondências com o Brasil ou com os EUA, visando o impedimento da divulgação de informações que pudessem dar informações relevantes sobre as atividades do Grupo ou Aliadas caso a correspondência caísse em mãos inimigas. 

4) Missões Simuladas

No Panamá duas missões simuladas contra campos de aviação foram criadas, organizadas e executadas de modo a darem a mais perfeita ideia possível da realidade. A Seção de Informações, em conjunto com a Seção de Operações, organizou as ordens de combate e os americanos avaliaram essas missões como de grande benefício para o treinamento daqueles que delas tomaram parte.

Em Suffolk, outras duas missões, desta vez de escolta de bombardeiros, foram simuladas. A Seção de Inteligência, mais uma vez em conjunto com a de Operações, organizou ordens de combate, calculou rumos e preparou mapas, fazendo a preparação das missões e o respectivo debriefing. Os resultados foram posteriormente enviados aos escalões superiores para avaliação do desempenho e correção de eventuais erros.

5) Iniciação dos Pilotos Recém-Chegados

A Seção de Informações instruía os novos pilotos sobre temas como:

  • Uso de mapas (escalas, leitura de coordenadas, etc).
  • Procedimentos de fuga caso fossem abatidos, incluindo o uso da bolsa de fuga e caixa de mantimentos.
  • Interpretação básica de fotografias.
  • Equipamento a ser levado e a não ser levado durante missão.
  • Leitura de mapas da flak, apontando-se onde a flak é mais ou menos intensa.
  • Topografia do Vale do Pó.

6) Formulário 34 (Form 34)

O Formulário 34 era o relatório no qual eram informados dados relativos ao material despendido, aviões danificados e descrição da missão. Era organizado de acordo com o relatório da missão, completado com estatísticas das seções de armamento e mecânica, e feito em sete vias, ficando duas com o esquadrão, uma com a seção de informações, uma com a Seção de Operações e as demais distribuídas aos escalões superiores. Deveria ser entregue até as 11h00 do dia seguinte e a partir dele era feitas as estatísticas do esquadrão e do Grupo.

7) Relatório da Missão (Daily Operations Report)

Feito imediatamente após a chegada dos pilotos. Resultava do interrogatório destes e nele eram assinalados com precisão as horas de decolagem e aterragem, número de bombas gastas, tipo de missão, número de aviões, descrição minuciosa dos objetivos atacados e dos resultados observados e ainda assinalado quais pilotos atacaram quais objetivos e com quais resultados. Uma vez concluído era transmitido imediatamente, geralmente por telefone - ou outro meio se mais rápido - à Seção de Informações do 350th FG, que por sua vez o transmitia aos escalões superiores.

8) Relatório de Perdas em Missão (Missing Air Crew Report - MACR)

Feito logo na chegada das esquadrilhas quando era comunicada a perda de um piloto. Nele constava o local exato onde o avião fora visto pela última vez assim como testemunhos do ocorrido e se o piloto havia sido visto saltar de paraquedas e se o fez em boas condições. Este relatório era passivo de transmissão imediata, mesmo antes do Relatório da Missão, para imediato início da investigação do destino do piloto.

9) Relatórios Sobre Bolsas de Fuga e Caixas de Mantimentos

Relatórios mensais comunicando as perdas de bolsas de fuga (escape purses) e caixas de mantimentos (food kits) em acidentes ou aviões abatidos, fazendo um balanço geral do número de perdidas, do número disponível para voos e do número de necessárias para reposição. Cada piloto levava uma bolsa de fuga e uma caixa de mantimentos (suficientes para até uma semana), sendo que ao final das hostilidades todas foram devolvidas ao 350th FG.

10) Comunicados de Guerra

Breves relatórios sobre as missões cumpridas, estatísticas e fatos relevantes e que era remetido ao Brasil. O Comunicado baseava-se no Formulário 34 e era remetido ao oficial americano de ligação em Nápoles, de onde era enviado ao adido militar no Brasil. que, por sua vez, encaminhava-o ao Ministério da Aeronáutica. Inicialmente deveriam ser diários, transmitidos via Serviço de Transmissões da FEB, em Livorno mas, como esse serviço só podia se encarregar de telegramas administrativos, após entendimentos com as autoridades americanas passaram a ser enviados com frequência menor que a inicialmente prevista via Nápoles. Os comunicados eram escritos em inglês e codificados de acordo com o código americano, sendo decifrado pelo adido militar estadunidense no Rio antes de encaminhado ao MAer. Também eram transmitidos comunicados diversos como os sobre pilotos abatidos ou perdidos em acidentes.

11) Fotografias e Filmes

Eram sempre selecionadas as melhores missões executadas pelo GAvCa, as quais eram, junto com as fotografias tiradas pelas K-25,  comentadas, estudadas e das quais se extraíam lições de interesse dos pilotos. O Ten.Av. Pedro de Lima Mendes organizou um filme com trechos dos filmes de combate de diversos pilotos com os Thunderbolts do GAvCa durante bombardeios e ataques rasantes na primeira parte da Campanha da Itália. Os melhores filmes do Grupo foram levados para o Brasil pelo Cap. Fortunato Câmara de Oliveira quando regressou ao Brasil em 18/03/1945.

12) Relatório Sobre a Última Ofensiva Aliada no Vale do Pó

Estudo da ofensiva aérea no Vale do Rio Pó na segunda metade de abril, contendo fotografias, filmes e referências elogiosas ao GAvCa feitas por diversos generais americanos.